segunda-feira, setembro 11, 2006

Bruno tem 10 anos e mora em Terezópolis de Goiás, com a minha avó. Volta e meia, quando ela precisa de doses intravenosas de civilização, acaba trazendo o moleque junto. E vocês têm noção do que é uma criança que sai de um projeto de cidade no interior de Goiás rumo à metrópole? Um atropelo em forma de gente. Fico sempre com nítida impressão de que ele veio ao mundo para me pentelhar.

E ontem ele estava aqui, entediado de tudo, porque a Sarah resolveu impor Jogos Mortais à televisão e ele não queria assistir. Eu, que também não sou chegada a esse tipo de filme, aproveitei a folga no computador (disputado a tapa na minha casa, entendam) para colocar a vida virtual em dia. E o Bruno ficou aqui do lado, me tomando por paisagem. Quando ele cansou da minha beleza, pegou o discman... E cansou mais uma vez. Pronto, era hora de se render ao filme.

Quando eu nem lembrava mais que ele existia, ele voltou...

- Priscila, se você assistisse aquele filme, você ficaria com medo!
- Pois é, como você vê, eu não estou assistindo...

E foi embora de novo. E voltou mais uma vez!

- É, eu acho que você não deve ver o filme mesmo...
- Bruno, nem você!

Aí ele percebeu que eu não tinha futuro. Foi dormir.

Horas mais tarde, quando eu já me preparava pra dormir, esbarrei com os 90 centímetros de gente a minha porta.

- Que foi, Bruno?
- Eu estou com medo do filme...

Aff, criança topeira... Eu falei que era pra não assistir ao filme!

Não sei o que acontece, crianças adoram me jogar problemas que eu não sei resolver. Impressionante! Como é que eu ia fazer o "medo do filme" ir embora? Entendam, instinto maternal é uma coisa que eu simplesmente não tenho. Não tenho!

Eu quis mandá-lo de volta pra cama e pronto... Ná, algo me dizia que ele ainda me perturbaria muitas outras vezes naquela noite se eu fizesse isso. De repente, eu entendi...

- Anda, arrasta seu colchão pra cá então...

Pronto, problema resolvido. Nem foi tão difícil, eu sei. Acontece que agora ele acha que eu sou legal...

Não, eu não quero nem pensar.